quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O Twitter foi subvertido

O Twitter foi subvertido. Não que essa tenha sido uma má notícia, mas de fato, foi o que aconteceu. Prova clara disso é a pergunta que se lia no topo do formulário de envio das mensagens no site: “What are you doing?” (O que você está fazendo?). Outrora respondida à risca no início das atividades do site, hoje é seguida de respostas que mais demonstram o estado de espírito dos usuários e suas revoltas sociais, econômicas ou políticas.

E isso foi sucesso. De mero anunciador de banalidades a ferramenta passou a oferecer um sistema simples de informação e reflexão, que une os “twitters” em grupos de interesse. A ferramenta passou a exercer a função de headnews no melhor estilo “Você Repórter”.

E seguindo à risca o conselho “não pode vencê-los, junte-se a eles!”, o site agora trás outra pergunta: “What’s happening?” sinal claro de que a função agora é outra. E o Twitter tornou-se agora mais um inimigo das empresas de comunicação jornalística. Depois da popularização da ferramenta, o Furo, foi furado. Michael Jackson, Farah Fawcett e Brittany Murphy já estavam mortos há tempos no Twitter quando as primeiras notícias surgiram nas redes de TV e nos portais de internet.

O uso nas empresas

Muitas empresas já adotam a utilização da ferramenta em suas ações de comunicação, tarefa importante que se torna desgastante se for realmente gerida com cautela. A velocidade com que as informações são divulgadas e a facilidade com que as pessoas podem emitir suas opiniões fazem do Twitter uma ferramenta poderosa, para o bem ou para mal. Por exemplo, em suas recentes férias, o humorista Evandro Santo, que dá forma ao personagem Christian Pior (Pânico na TV), teve problemas com a agência de viagens na qual ele havia feito o pacote para curtir as férias. Visivelmente nervoso (deixaremos aqui de analisar o mérito da situação), foi ao Twitter desabafar. Contou os problemas enfrentados e armou o barraco, claro, citando o nome da empresa envolvida. Não demorou nem cinco minutos para que os seus primeiros seguidores (o humorista tem 711 seguidores no perfil @SantoEvandro) manifestassem experiências semelhantes com a empresa, seguidos de incalculáveis “RT’s” (re-twitts, ou republicação do Twitt de outro usuário) bombassem por toda a rede. Isso mostra a capacidade da ferramenta em mobilizar pessoas em torno de causas. Os Flash Mobs, já discutidos no fórum anterior, também encontraram no Twitter um espaço para disseminar seus projetos e mobilizar participantes.

Como comunicólogo, fico ainda inconformado com os departamentos de SI das empresas que promovem censura ou restrição ao uso destes sites no ambiente de trabalho. Certo que os defensores do bloqueio alegam ser uma ferramenta que vai contra a produtividade, mas a realidade mostra o contrário. Os abusos cometidos por funcionários devem ser repreendidos e até punidos, mas o ato de bloquear essas ferramentas (entenda-se por todas as mídias sociais) leva apenas a um atraso na comunicação da empresa e a faz correr na contramão da própria sociedade pela qual ela trabalha. É função dos departamentos de comunicação (ou na falta deles, o assessor de comunicação) alertarem a diretoria da empresa para a necessidade de se posicionarem de maneira proativa e utilizar essas ferramentas, incorporando suas funcionalidades à atividade laboral e promovendo através dela as demandas da corporação.

Enfim, é dever do responsável pela comunicação da empresa (seja a interna ou a externa) zelar para que a empresa não fique fora das novas tecnologias. E esse dever é exercido através da ação participativa nessas redes. Há quem “deteste” Orkut, FaceBook, Twitter, Via6, Blogger, etc... e prefira ficar de fora do universo das mídias digitais. Mas essa saída tem um preço alto, se comparada às vantagens advindas da utilização responsável e consciente dessas ferramentas. Enquanto escrevo este artigo/comentário recebi um “twitti” que dizia “Como é doce o sabor de baixar algo que pagaria R$ 60,00.” Junto à mensagem seguia o link para download pirata do novo álbum da cantora Laura Pausini. Digitei RT dizendo “Pirataria é Crime =o” e pronto. Estava armado o debate. Em cerca de um único minuto, seis usuários já debatiam sobre hipocrisia, crimes digitais, “analfabytismo”, entre outras coisas. Isso mostra o poder da ferramenta na própria formação da opinião da sociedade/usuários, apesar de acalorado terminamos todos nos abraçando no Buddy Poke.

Diferentemente do que se pensa e é levantado por aqueles que são contra as mídias sociais e o jornalismo na internet, ferramentas como o Twitter e o RSS não prejudicam a informação. A dinâmica dessas ferramentas, que limitam o uso de caracteres, vem justamente da sua característica instantânea, e não podemos esquecer que no caso do Twitter, a ferramenta foi subvertida. Sua função inicial era justamente informar “O que você está fazendo?”, os novos usuários foram os que forçaram a ferramenta a adotar o modelo “o que acontece?” postando “notícias” sobre o cotidiano.

Os apocalípticos sempre aproveitam o surgimento de novas ferramentas para anunciar o fim do jornalismo (ou de sua qualidade), mas sempre sobrevivemos. E sobrevivemos porque apesar de instantâneas e de largo alcance, essas ferramentas não substituem o jornalismo. Um exemplo prático: na madrugada de hoje (7 de janeiro) a cidade de Uberaba enfrentou uma chuva de aproximadamente uma hora de duração, suficiente para promover uma das maiores enchentes já ocorrida na cidade, mas que devido à experiência anterior não trouxe conseqüências trágicas. Ainda na madrugada, um morador do centro da cidade registrou, da sacada do primeiro andar do prédio onde mora, as imagens da enchente. Postou o vídeo no Youtube e enquanto os jornais da cidade estampavam na manchete da manha de hoje noticias sobre operações da policia, inaugurações, festas, etc., usuários do Twitter, já publicavam às 7 da manhã (cerca de três horas após a chuva) o link para o vídeo. Isso não impediu que as emissoras de televisão da cidade passassem a manhã entrevistando autoridades, percorrendo hospitais em busca de possíveis feridos, realizando imagens dos estragos, muito menos prejudicou o trabalho dos redatores e fotógrafos na busca pelos relatos do caos. E certamente, a maioria dos que acompanharam os relatos via Twitter ou ainda que assistiram ao vídeo no youtube, também sairão na busca do desenrolar dos 140 caracteres iniciais. E é justamente aí onde está a questão: tudo depende do interesse do receptor e não só das ferramentas de informação disponíveis. O segredo é estar presente e utilizar essas ferramentas, na busca de atingir o maior público possível. O Twitter foi subvertido, mas isso não é tão mau assim. (Extraído do Fórum de Novas Mídias. Curso de Pós Graduação em Comunicação Corporativa da UGM - Por Luiz Maurício Pereira, Jornalista e Assessor de Comunicação. Ex-aluno do Curso de Jornalismo da UNIUBE)

Um comentário:

Gabriel Galvão disse...

É a velocidade da comunicação e o dinamismo proporcionado pela era do "faça você mesmo" na comunicação e informação.

Abraços!